domingo, 23 de setembro de 2007

NOITE ENFEGADA


Quando eu penso que a Zarolha
já engatilhou a vida dela
e me vai deslargar da mão...
Ela aparece!
É que não me pode ver com ninguém!

Ontem fui sair com a Escanzelada

Fizemos as pazes!
Mas a Pancinha ainda não sabe.
Eu também não vou dizer.
Quero que ela descubra de surpresa...
que nos apanhe em flagrante.
Que assim ainda lhe vai doer mais.
Eu não sou má! Sou ruim!
Quando mas fazem mas pagam!

... Já não se pode sair de casa...
Chegámos não havia mesa...
Estava o bar cheinho.
Já vinhamos embora
quando vagou uma mesa lá no meio das outras.

Ó diacho!
Então não é que a mesa
ficava ao lado
da mesa onde estava uma das comadres,
a Sobrelha...
Estava com outras amigas...
A amiga, a Rapada, não estava lá!
Hum! O que se terá passado!
Bom, quando eu passo para me sentar
reparo nela a olhar para mim...
mas de revés, como os bois enchifrados,
com a sobrelha levantada
e aquelas ventas mais abertas
que parecia que me queria engolir.
Moça por causa de quê é que ela
estava a olhar para mim assim?
Cortou-me a fala, que eu era isto e aquilo
e agora dá-me tanta importância?
Moça, desolha-me!
Que eu não quero saber de ti para nada.
Ainda me dás quebranto!
Ignorei-la e sentei-me na mesa...
e virei para o outro lado
para não ficar de fuças com ela.

Olha que azar o meu!
Quem é que estava do outro lado?
A Zarolha!
Não me falou...
Também, a gente não se conhece de lado nenhum.
Dê-mos de vaia uma vez,
por causa de outras pessoas.
Só que a Zarolha, sempre que me vê,
põe-se a olhar para mim.
Quer dizer, ela não olha,
porque ela é Zarolha.
E mesmo que olhasse
não lhe dá para ver os olhos
atrás dos fundos de garrafa.
Mas eu vejo pelo franzido da testa
que ela se está a torcer toda para me ver...
Isto tudo,
porque ela tem ciúmes de mim!
Mas que culpa é que eu tenho?...
Até andou no Ai-fai a falar mal de mim
com a Hiena Mutante.
Essa também é outra que me está entalada!

Bom, saimos daquela mesa
e fomos sentar numa pedrazinha
que havia no canto do jardinhito.
Olha, ficaram as duas malucas!
Torciam-se todas a ver onde a gente tinha ido!

Só que eu tive que me levantar
para ir buscar o chá
e aí dei o alarme...
Eu a levantar-me discretamente, para não me verem
mas as pessoas são umas invejosas.
Sempre a olhar para mim!
Eu já nem me produzo nem nada para sair à noite...
É uns trapitos e uma côrzita!

Olha, a Sobrelha vê-me...
começa a abrir e a fechar as ventas muito depressa...
Eu fugi...
Já nem quis saber do chá.

Nisto, quando volto para o pé da Escanzelada...
Apanho a Zarolha lá a cheirar...
Estava brincando com um gatinho...
Brincando com um gatinho?!
Estava era a cheirar...

Subiu-me os nervos...
Ceguei!
Tirei o sapato...
Amandei com toda a força ao focinho
do gato...
O gato saltou com as unhas pró focinho
da Zarolha... arranhou-lha a fronha toda!
Pensam que a desgraçada disse alguma coisa?
Desapareceu tão depressa
que eu que não sou Zarolha
nem a vi!

Pronto, acabou! - pensei.
Então não é que eu ainda não tinha acabado
de calçar o sapato,
já vinha a Zarolha de volta...
A mulher não tem noção do rídiculo!
Toda soberba, soltou a gadelha
e lá vinha a abanar-se escadaria abaixo!


Quando chegou à mesa dela,
já o engate dela estava com outra!
Só queria que a vissem...
deu a volta espaventada, subiu a escadaria
(parecia que tinha fogo no rabo)
e saiu desalverada pela porta.

Bem feita!

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